quarta-feira, 11 de junho de 2008

Os Desastres de Sofia


"E eu era atraída por ele. (...) Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto (...). Ele me irritava. De noite, antes de dormir, ele me irritava. (...) Eu queria o seu bem, e em resposta ele me odiava. (...)Tornara-se um prazer já terrível o de não deixá-lo em paz. (...). Bem devagar vi que o professor era (...) muito feio, e que ele era o homem de minha vida. (...)— Você — repetiu então ele lentamente como se aos poucos estivesse admitindo com encantamento o que lhe viera por acaso à boca —, você é uma menina muito engraçada, sabe? Você é uma doidinha... — disse usando outra vez o sorriso como um menino que dorme com os sapatos novos. (...) Não, eu não era engraçada. Sem nem ao menos saber, eu era muito séria. E não, eu não era doidinha, a realidade era o meu destino, e era o que em mim doía nos outros."



Clarice Lispector

3 comentários:

Jú Monteiro disse...

Talvez por viver num drama sem fim que vc goste tanto de Clarice Lispector, né? [risos]

bjo ^^

Desabafo Literário disse...

Primeiro: Quem, em sã consciência, vai ler mais alguma linha além da definição do teu blog? Vão pensar: DOIDA! hehe.
E eu adoro isso. :D:D

Segundo: Acho que nunca, em todo o universo, eu vou ler um texto tão exatamente redigido pra tu como esse de Sofia.. Acho que 'mamãe' tava psicografando o futuro (pode fazer isso? o.O) quando escreveu essa.. :D

Gabriela disse...

será mesmo, chuchu? será que ela estava psicografando? nossa! eu nunca tinha pensado nisso! bom, foi por isso que eu quis iniciar o blog com esse texto! ele é feito pra mim! *.*