segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Nada Pode Ser Diferente

Ela ainda acreditava que poderia ser diferente. Que era diferente. Que era coisa de cinema, coisa de outro mundo. Um mundo, talvez, dos sonhos. Dos seus sonhos. Aqueles sonhos malucos em que ela é tratada mal, que é desprezada, que é notoriamente ignorada, mas que, não se sabe como, sente que é querida. Não sabe ela que aquele discurso de filósofos e poetas de boteco de que a vida é uma grande merda, de que a vida é o maior palco para os seres humanos, personagens-vazios-criados-por-uma-sociedade-massificadora, só é possível porque há o ópio. Amor: ópio puro da humanidade, consumido a cada milésimo de segundo por seres sobreviventes desta eterna loucura que é a vida. E ninguém sabe o que é, ninguém sabe definir. As canções, as valsas, as poesias, os poemas, as pinturas, as fotografias. Tudo. Tudo é uma vã tentativa, uma tentativa FRUSTRADA daqueles que não reconhecem em si o que nos outros reconhecem. E ela, e ela, e ela. Ela que não entendia nada de nada, porque entender era a sua maior tentativa. Acreditar, também. Mas, agora, isso já não é possível: ele sequer quis aparecer nos seus sonhos malucos. E descobriu que nada, absolutamente nada, era diferente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quer Saber

Quer saber? Você deveria parar de aparecer nos meus sonhos, nos meus pensamentos, nas minhas lembranças. Você deveria, menino. Mas você não vai. E é por isso, menino, que qualquer encontro ao acaso é um dos meus sonhos que eu realizei sem mas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Re-

E, de certa forma, eu entendia aquela frieza. Aquela frieza de quem tem medo de se re.

sábado, 27 de novembro de 2010

E Ele

E ele me olhava de lado. E ele parecia saber que isso me incomodava. Que isso me incomoda. E ele ria das minhas unhas vermelhas, das minhas sandálias rasteiras, do meu cabelo sempre dividido ao meio, da minha vergonha de usar colares extravagantes. Toda sexta-feira era assim. Toda santa sexta-feira. E empurrava os óculos para poder me olhar de lado. Eu realmente não sabia o que fazer para que isso acabasse. Pensava nas mil possibilidades de chegar e dizer dá pra parar com isso, ô, meu filho? ou de mandar um bilhete ameaçador dizendo ou você para, ou eu... ou eu talvez não queira que isso acabe.

sábado, 20 de novembro de 2010

Lâminas

Ó, meu Deus! Essaspalavraspontiagudascomlâminasenferrujadascravadasemnossoscorações. Nos dão vida. E nos falta fôlego para viver.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um Dia

Um dia eu escrevi um verso que só meu caderno soube guardar. Em meu coração já não cabia mais nada.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Da Diversão

Existe maior diversão que o próprio ser humano? Definitivamente, não.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nota Sobre o Barulho

Lá fora faz um barulho estranho. Acho que é o silêncio.

sábado, 14 de agosto de 2010

Elementos

Logo eu, logo eu, que achava que se apaixonar era a maior tolice de um ser humano, a maior mentira, a maior miséria. E eu, que não acreditava nas dores de amor de alguém. Hoje, como aquelas peças que não-sei-quem ou não-sei-o-que gostam de pregar justamente nas pessoas mais destemidas de qualquer sentimento, assim, incontrolável, fez com que o movimento de rotação da Terra demorasse duas vezes mais. 24h viraram 48h. Dois dias viraram quatro. E assim, como num piscar de olhos, 8 páginas do meu calendário foram arrancadas. Eu procurei chão pra me enterrar, procurei mar pra me afogar, mas tudo o que eu encontrava era fogo... e ar. Ar que só procurava alimentar um fogo. E este, não sei, este procurava a própria morte.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nota da Exigência

Para não sofrer, para não enlouquecer e para não morrer: tenho que parar de exigir dos outros o mesmo que exijo de mim.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Imbecil

Imbecil! É isso o que você é: um baita de um imbecil! Sem humor, sem amor. Com todas essas porras todas e você, ainda assim, consegue ser um imbecil. É inacreditável o talento que você tem de ser tão chato. Dá vontade de jogar uma granada na sua boca cada vez que você fala. Ouvir sua voz é um parto. Agora, se me dá licença, e que se foda caso não dê, eu vou ali falar com a Irmã Marlene pra ver se ela dá um jeito nessa sua vida medíocre.

802

Não esperei o elevador chegar. Subi os dois andares até chegar ao apartamento da minha melhor amiga. Sim. Porque nessas horas só os melhores amigos cometem loucuras conosco. Nem toquei a campainha, já fui metendo a mão na maçaneta, desesperada para entrar. Ela me olhou com certo espanto, puxou uma cadeira para que eu sentasse e foi até a cozinha pegar um copo d'água. Não sentei, não bebi. Apenas disse, com o fôlego que me restava "Vem comigo!". Sem perguntar nada, ela pôs o vestido que estava em cima da cama e pegamos o elevador. Já perto da saída do prédio, ela disse "Direita ou esquerda?". Num conflito comigo mesma, apenas virei para a esquerda, e seguimos. Essa agonia toda já estava me deixando tonta. Eu não comia há 3 dias e ela sabia disso.

- Eu não acredito que tu vai até a casa de Gustavo agora. Pra falar o quê? HEIN? Hein, Mariana, responde!
- Se for o caso, ele vai ouvir até o meu silêncio.
- Isso é loucura, Mari! Ele sequer vai abrir a porta pra falar com a gente, quer dizer, contigo.
- A gente arromba!
- A gente o quê?! Amiga, tu não tá bem, é melhor voltarmos. Tu dorme lá em casa e mais tarde a gente vê o que é que faz.
- Não. Tem que ser hoje. Aquela sinházinha tá lá, tenho certeza! Ai, Carol, ele não sabe com quem mexeu...
- Eu tenho medo quando tu diz isso...

O porteiro acenou para nós duas. Como já nos conhecia, nem interfonou para o 802. Achei a chave, mesmo naquele corredor tomado por uma escuridão fria. Gustavo pagaria por toda a finita felicidade que já havia me dado. E por todo o infinito sofrimento, também. Carol pedia cautelosamente para que eu pusesse um bilhete debaixo da porta, deixasse algum recado com o porteiro ou que saíssemos de lá sem fazer nada. Mas não. O relógio marcava 3h30min e eu não estava nem um pouco a fim de perder a viagem. Nem a minha, nem a dele, ou a de quem quer que estivesse ali, dentro dos 200m². Abri a porta e pedi para que Carol sentasse no sofá - queria poupá-la de certas cenas. Caminhei passos curtos até o quarto dele. Fiquei encostada na porta, sentindo o cheiro de suor que exalava daquela cama nojenta. Eu tinha nojo, puro nojo. Não do cheiro, mas dos dois. Tirei a arma da bolsa, bati na porta e, antes que ele gritasse meu nome, eu disse, bem baixinho, quase susurrando, "Morram, miseráveis!". Cinco tiros foram o suficiente para os dois. Da sala, ouvi Carol gritar o nome de Deus seguido do meu. "Meu Deus, Mariana! Meu Deus!". O Deus pelo qual ela chamava talvez fosse o mesmo pelo qual eu chamei quando Gustavo matou Lucas, meu amigo, um irmão.

domingo, 25 de julho de 2010

Minha Janela

Eu saí correndo. Correndo feito uma louca numa rua que tinha várias saídas. Deve ter sido por isso que eu corri des-vai-ra-da-men-te. Nunca antes na minha vida eu tinha tido tantas saídas, e, na primeira vez em que vi várias, enlouqueci. Sempre fui acostumada a pensar e pensar e pensar até que uma janelinha, daquelas que o cuco grita seu nome, para autoafirmação, se abrisse. E como era difícil fazê-la abrir. Na minha janela, em vez de gritar "Gabriela", eu gritava "Dor", este sobrenome que não me deixa. Nunca.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Otário

Ele deveria entender que eu não estava interessada. Eu não estava nem aí pra ele. Aos poucos, os homens foram se tornando meu maior aprendizado. Minha escola, sabe? Antigamente, pra mim, viver bem era sair toda noite com um cara diferente e beber dois litros de vodka em menos de duas horas. Nunca soube o que me fazia gostar tanto dessa destilada. Passados alguns meses, nessa onda de sair pra beber e beber pra sair, fui percebendo que, nesses encontros noturnos, sempre na rua A., havia um homem que todos os dias sentava na mesma mesa de bar, fumando seu cigarro, empurrando seus óculos pra melhor enxergar quem por ali passasse. E ele me olhava. Olhava como se seu olhar estivesse protegido por óculos-escuros. Um dia, não aguentei e dispensei o cafajeste com quem eu estava naquela noite, atravessei a rua e, embora não fumasse, perguntei se ele tinha um isqueiro. Ele, com um ar de desprezo, disse que não tinha isqueiro algum, mas que me pagaria uma dose de uísque se eu sentasse pra conversar durante 15 minutos. Não hesitei um segundo sequer. Estava curiosa pra saber nome, endereço e, quiçá, telefone. Passamos os 15 minutos calados. Um olhando para a cara do outro. Até que eu me levantei e disse que os 15 minutos já tinham passado. Ele segurou meu braço, me puxou pra perto dele, dizendo "Não vá agora, Sara! Não agora". Insistiu me oferecendo mais algumas doses, perguntando quem seria o otário da noite seguinte. Nem respondi. Já bêbado, pediu que o acompanhasse até a sua casa. Caminhamos durante 20 minutos, e, chegando lá, pediu que eu subisse. Ele deveria entender que eu não estava interessada. Eu não estava nem aí pra ele. E se estivesse, eu já teria ido pra cama no primeiro minuto em que ele me olhou. Otário.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Personagem de Mim

Já estive perto. Já estive muito perto. E agora estou tão longe que mal consigo enxergar. Nem o acaso, que era meu amigo, se propôs a me escolher.
Embora digam por aí que a vida gosta de nos pregar algumas peças, sou eu que escrevo um ou dois papéis para que eu mesma represente. Ocultando minha identidade, enterrando a minha face nas palavras que digo por meio de uma personagem que na verdade sou eu e eu e eu e eu. Não quis te enganar, nem quero. E se o caso for enganar alguém, que eu seja o primeiro e o último pronome indefinido; indefinido como eu.
Fomentei sonhos dentro de mim. Fomentei vontades e alguns medos, e, como alvo, te escolhi. Sem pra quê, sem porquê. Andava tão vazia que já não me lembro mais. E estou tão bem assim.

sábado, 26 de junho de 2010

Mariazinha

Mariazinha veio me dizer besteirinhas. Mariazinha nunca girou bem da cabeça. Ou a cabeça gira muito, ou estaciona e fica. Falando nisso, minha cabeça começou a doer.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Medo da Loucura

Você. Você tem medo do quê? Eu? De nada. Eu num sei nem do que você está falando. Quem é você? Quem é Medo? Nunca me viu antes? Não sei... mas você me é muito familiar. O que quer aqui? Para que veio? Que você me conheça! Estou com susto de você! Não é susto, é medo. Não sei quem é esse Medo, já disse. No amor você me conhecerá.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Retas Paralelas

E foram se distanciando até se transformarem em duas retas paralelas que se encontrarão no infinito.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Mentaliz(ações)

Decoro o decoro parlamentar
E não há motivos, não há motivos
Desfaço o acordo para matar
Acordo vivo num acordo vivo?
Recordo os acordes da convalescença
Onde não há ciência há coerência?
Subverto a sabedoria saliente do coeficiente
Uma mente mente, um coração desmente
Recorro à medida desmedida do momento
E o coração já sente a vida batendo na gente
Esterelizo a realidade recriando a dor
Busco o que não quero, almejo o que não vejo
Versifico com eloquência o que não vivo
Durmo e acordo, abro os olhos - não sinto,
dou o último suspiro.


Elton Moura
Gabriela Medeiros

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Zebras

Ou vai me dizer que nunca lhe disseram que as zebras são as primas dos cavalos?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Desafio

"Amaldiçoada" por Álisson.



1-Agarrar o livro mais próximo;
2-Abrir na página 48;
3-Procurar 5º paragrafo completo;
4-Colocar o paragrafo no blog;
5-Repassar pra 3 pessoas.


- Livro: Tutaméia, de Guimarães Rosa.


Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.


PS: Até agora não sei o objetivo desse "desafio", mas evitando qualquer macumba vinda de Álisson, é lucro!

Sem indicações.




quinta-feira, 13 de maio de 2010

End(i)vida

O sangue segue quente
Sente, mete, na frente
O soco sangra o dente
A gente bate na gente
No sol o saldo seca
É a vida arrancada do ventre
Na boca a sede ressaca
A dor logo maltrata
A falta revida na vida
O que não suportei foi a morte
Depois do medo, o susto e o pulo
Não-amor, não à vida, não há sorte
Abri os olhos, e me vi num mundo
onde morrer é viver
e viver é coisa de outro mundo.


Elton Moura e Gabriela Medeiros

terça-feira, 4 de maio de 2010

Llanto

Eu já chorei tanto que não consigo mais respirar.

domingo, 11 de abril de 2010

E Depois?

A vida.
E depois?
Há vida.
E depois?
A lembrança.
E depois?
A morte.
Mas...
E depois?

domingo, 21 de março de 2010

Sétimo Sentido

Há tantas coisas
Coisas
Que me aparecem, desaparecem
Talvez sejam sombras, sonhos, sono
Talvez aflija, atinja a vista
O que não sei, é aquilo que não quero enxergar

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dando Satisfação

Sim. Eu ainda pretendo voltar a este lar que, por incrível que possa parecer, me pertence.
Estou voltando. Sim, estou voltando...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Da Madrugada

- Sabe o que eu vou fazer? É... quanto será um rim no mercado negro?
- ...
- E um pulmão?!
- E a...?
- Ah, essa deve ser barata! Tem gente dando por menos de R$100,00 por aí.
- E tu, tu cobra quanto?
- É grátis! Cobro nada, não.
- Menina, tá pior que remédio!
- Remédio???!
- É. Amostra-grátis!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Se Me Hizo Fácil

Olhe, sinceramente, eu não sei. Eu não sabia, na verdade. Até acho que desaprendi a escrever. Não, não. Não me perguntem mais nada. Não me escreva mais cartas, eu não vou responder - eu não sei. Desconfio que esses calos nos meus dedos são saudades. Essa falta de jeito é o que mais me assusta. Até ontem eu sabia. E como posso não saber mais? Ontem à noite eu chorei. Eu chorava com pena da dor dos outros. Eu podia sentir as dores, sim. Olhando bem, metade nem choraria. Metade nem entenderia o que estou escrevendo. E nesta metade me incluo. São só palavras sem sentido. Mas como? Como?, se estou seguindo uma lógica e dando sentido às palavras. Eu não sei escrever. Não sei, não sei, mesmo. Não ter nexo, o que eu digo, faz de mim um atestado puro de loucura. E não quero encontrar um psiquiatra ao dobrar a esquina. Mais louco é quem me diz...