domingo, 1 de março de 2015

Esperto é quem fica em silêncio. Esperto é você, esperta sou eu. E fomos buscando as entrelinhas, os entremeios e os entreatos. No silêncio que sempre te despia, e ainda te despe, eu fui encaixando as peças como quando faço num quebra-cabeça: testando. Isso encaixa, isso não encaixa. E você foi abrindo as janelas, depois os cadeados, depois as fechaduras, e deixou a porta entreaberta, como quem quer, sim, alguma coisa mas espera o passo do outro. Você tem medo dos (meus) passos que se aproximam. Fica parado, atrás da porta, acreditando que eu vou empurrá-la devagar e entrar. Mas eu também paro. E bato três vezes na porta entreaberta. Já posso ver sua sala, sua varanda e seu corredor. E você não abre a porta. Agora eu toco a campainha. Você não se move. Eu, já cansada dos três andares subidos de escada, dou meia volta e desço um degrau. Dois degraus. Três, quatro, cinco.
O celular vibra na bolsa enquanto faço o caminho inverso - só quando chego em casa é que penso em olhá-lo.

E lá está você, mais uma vez, me dizendo: Desculpa, é que ainda não tive coragem de arrumar meu quarto.