sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Saberes

Você sabe alguns dos meus autores favoritos, filmes favoritos, atores favoritos. Você sabe, sem hesitar, qual a minha música preferida de Led Zeppelin. Você sabe que eu gosto de Tom Zé, Carnaval e Silvio Santos. Sabe o dia do meu aniversário e, consequentemente, é claro, meu signo. Você também sabe que eu adoro João Bidu. Você sabe que vez ou outra eu perco o controle e acabo gritando de entusiasmo. Vez ou outra, não... Sempre. Você sabe que eu gosto de dançar e que eu fico agoniada quando vêm me abraçar quando estou suada. Você provavelmente sabe e lembra com muita nitidez quais os sucos que eu gosto. Você sabe que eu adoro café. Também sabe que eu poderia facilmente me alimentar apenas de milho, batata, leite e chocolate.  Você sabe que eu tenho medo da internet e que não simpatizo com a Google. Você também sabe os nomes da maioria dos meus amigos. Você sabe que eu não gosto de falar muito durante filmes. Sabe que eu torço pelo Sport e fico nervosa durante os jogos. Você sabe que eu gosto de cerveja, Sandy e Junior, bem-casado, Recife e... detesto o Natal.

Mas a questão é: você sabe que eu sei que você sabe tudo isso sobre mim?

domingo, 1 de março de 2015

Esperto é quem fica em silêncio. Esperto é você, esperta sou eu. E fomos buscando as entrelinhas, os entremeios e os entreatos. No silêncio que sempre te despia, e ainda te despe, eu fui encaixando as peças como quando faço num quebra-cabeça: testando. Isso encaixa, isso não encaixa. E você foi abrindo as janelas, depois os cadeados, depois as fechaduras, e deixou a porta entreaberta, como quem quer, sim, alguma coisa mas espera o passo do outro. Você tem medo dos (meus) passos que se aproximam. Fica parado, atrás da porta, acreditando que eu vou empurrá-la devagar e entrar. Mas eu também paro. E bato três vezes na porta entreaberta. Já posso ver sua sala, sua varanda e seu corredor. E você não abre a porta. Agora eu toco a campainha. Você não se move. Eu, já cansada dos três andares subidos de escada, dou meia volta e desço um degrau. Dois degraus. Três, quatro, cinco.
O celular vibra na bolsa enquanto faço o caminho inverso - só quando chego em casa é que penso em olhá-lo.

E lá está você, mais uma vez, me dizendo: Desculpa, é que ainda não tive coragem de arrumar meu quarto.