domingo, 25 de outubro de 2009

O Dia de Amanhã

"Ninguém sabe o dia de amanhã", minha avó vive dizendo. Mas, vovó, sério: eu sei o dia de amanhã! Amanhã é segunda-feira e, certamente, estarei mais lascada do que hoje.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Desconhecidos

Ela morava sozinha. E se sentia sozinha. Até que, cansando dessa solidão amarga, pensou em pôr um anúncio num dos murais da Universidade em que estudava. O anúncio era simples, possuía o seu número de telefone e "Procuro estudante interessado em dividir um apartamento". Por ter feito uma coisa bem simples, pensou que ninguém se interessaria, ninguém ligaria pedindo informações. E teve que dividir a solidão com os livros, com as músicas em baixo som, com a televisão por mais uns quatro dias. Assistindo ao seu programa preferido, o telefone toca. Ela não atende; na verdade, nem escuta. No intervalo comercial, o telefone toca mais uma vez. Duas. Três. Até que ela resolveu se levantar do sofá para atender. Sim. Era um "estudante interessado em dividir um apartamento". Não conversaram muito - ela já tinha desacostumado a manter uma conversa por mais de cinco minutos. Estava combinado: no dia seguinte, ele já se mudaria. Quase se arrependendo do que havia feito, uma cefaléia forte não permitiu que ela saísse de casa no outro dia. A manhã passou, a tarde passou e a noite já estava adentrando na madrugada quando a campanhia toca. Mas quem seria àquela hora? O porteiro, talvez. Ou um vizinho pedindo uma xícara de açúcar. Um rapaz alto, de boné, calçando um all-star preto, apenas diz "Boa Noite" e entra no apartamento. Como assim? Que invasão domiciliar era aquela? Quanta ousadia! Entretanto, viu duas malas no chão, resolveu responder ao "Boa Noite" e voltar para o sofá - para ler o livro que acabara de ganhar da sua madrinha. Ele parece ser extrovertido, um verdadeiro gozador, pensou ela. Ela parece ser chata, provavelmente não sabe cozinhar, por isso quis pegar alguém para fazer uma escala para o Inferno aqui, pensou ele. Depois das boas-vindas dadas, ele ficou parado na sala, sem saber o que fazer, para onde ir. Até que ela percebeu a humilde presença de um homem de 1,92 na sala e disse que o quarto dele era o segundo à esquerda. Ele não sabia que ela era uma boa pessoa, mas sozinha. Uma pessoa inteligente, mas sozinha. Uma pessoa linda, mas sozinha. E ele não sabia que no dia seguinte era o aniversário dela. Na verdade, nem ela mesma lembrava. Puxa, ele deveria ser recebido um pouco melhor, sim?, pensou alto. Ouvindo um barulho na sala, ele pergunta se ela havia falado alguma coisa. Ela disse que não, mas que ele poderia ficar à vontade, que se sentisse, de fato, em casa. Mostrou-lhe as outras acomodações da casa; pronto, agora ele já estava familiarizado. E foram dormir. Ao acordar muito cedo, ela, já melhor da dor de cabeça, resolveu fazer um café-da-manhã para ele. Sim, e ela levaria até a sua cama. Seis horas da manhã, tudo pronto, mas nada de ele acordar. Havia morrido?, pensou. Não, não, eu que acordei cedo demais, repensou. Não mais suportanto aquela expectativa, ela resolve acordá-lo. Tocou nele, ele acordou, mas ela não soube o que dizer, então disse Bom Dia. Ele, sem entender nada, não respondeu, só a olhava nos olhos. Fiz para você, disse ela, é que ontem eu estava morrendo de dor de cabeça e nem estava me aguentando. Silêncio mútuo. Bom, espero que goste, juro que não pus veneno no suco de laranja. Veneno? Ela disse VENENO?, exclamou em seu pensamento. Calma, ela disse laranja? Como assim ela sabe que eu amo suco de laranja? Estou tendo um sonho e um pesadelo ao mesmo tempo, pensou ele. Ela saiu do quarto. Ao comer as maravilhas que ela havia preparado, percebeu que havia uma carta embaixo do jarrinho da orquídea. Ele leu, saiu correndo para sala, depois correu para a varanda. Olhou para baixo, lá estava ela. Por que, meu Deus? POR QUÊ?, gritou ele, do décimo andar. E ele chorou, chorou e chorou. Chorou por uma pessoa que mal havia conhecido, que mal havia visto direito, mas pela qual já dedicava tamanho carinho, tamanho afeto. A carta, bem, a carta ele, com 62 anos, guarda até hoje. Talvez fosse ela, a garota com 19 anos, a primeira mulher que amou.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

E-mail (nada) Confidencial

Alô, gatinhos do meu Brasil! Como vai a força de todos?!
Bom, estou aqui, nesta tarde de segunda-feira, tentando, desde 11h30, escrever algo decente para o nosso trabalho. No entanto, depois de quase duas horas, só consegui escrever 5 linhas. É, amigos, CINCO linhas, isso mesmo. Enfim, não estou aqui para chorar as pitombas (sim, bem sei que é pitangas, mas pitombas é mais romântico e gostosas, claro); estou aqui para enviar para vocês, Divos do Saber, um arquivo meio interessante que acabei achando na Terra-de-Ninguém, vulgo, Internet. Espero que, de alguma forma, isso ajude vocês.
Um forte abraço, uma boa sorte e um beijosmeliguem.
Da maravilhosa,
Gabi.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Primeiro Capítulo

Desde agosto desse ano, percebi que mudei muito. Quer dizer, algumas coisas na minha vida mudaram. Nunca fui daquelas garotas obcecadas por academia e dieta. Definitivamente, não. Mas depois de tanta insistência de uma amiga minha e, consequentemente, com a abertura de uma academia relativamente perto da minha casa, resolvi me matricular em uma. Sim. Já havia frequentado quando criança por imposição da minha mãe, mas dessa vez foi por vontade própria; aliás, quase. Daí em diante, comecei a perceber alguns costumes antes pouco reparados, novos vícios, novos hábitos. Sempre fui da geração 100% preguiça. Acordava super tarde, não tomava café-da-manhã, mal almoçava, comia muita besteira na universidade, jantava pouco. Não curtia nem pensar em atravessar a rua, quem dirá andar dois metros. Subir os dois lances de escada do meu centro, na universidade, era como subir os degraus para chegar até o satélite da Terra.
Agosto foi como um pontapé da consciência que estava adormecida há alguns anos. Outra Gabriela nascia. Tá, nascer é um pouco de exagero, mas posso dizer que outra Gabriela... Hm, não sei. O que sei é que “quem me viu, quem me vê” não consegue notar muita diferença. Mas, para mim, que convivo comigo, obrigatoriamente, todos os dias, todas as horas, minutos e segundos, eu mudei à beça. Diariamente, acordo às 5h15. Passei a tomar café-da-manhã – tudo porque meu corpo é fraco. Almoço melhor, mas ainda peco neste ponto. Estou tomando quase dois litros d’água, que para mim não diz nada, não acredito nesses mitos sobre os dois litros d’água que vagam por aí. Hoje posso andar dois metros sem me cansar, até 5, 6, 9... Passei a me viciar mais em mostarda. Descobri que amo o Trident de canela. Estou comendo menos carne vermelha, como prometido no início desse ano – só não compus a música que prometi fazer para Lenine. Estou sendo obrigada, pelo calor da minha amada cidade, a tomar cerca de cinco banhos por dia. Ultimamente, venho, ainda com mínima frequência, pagando meia-entrada para o Inferno: CDU-Várzea (vale salientar que por castigo de Deus, por estar cometendo este 8º pecado capital, fui parar em um bairro muito gracioso da cidade do Recife: Monsenhor Fabrício). Estou ficando mais chata do que já era, mas sem perder a educação – às vezes. Estou me preocupando menos em tentar manter uma conversa com uma pessoa com a qual não tenho sequer a intimidade de saber o ônibus que pega para ir para casa. E agora estou percebendo outra coisa: sempre prezei pela minha privacidade começando por não contar detalhes da minha vida, muito menos os meus sobrenomes, para Deus e o mundo; no entanto, estou cá contando coisas que jamais me imaginaria contando sequer para um tio meu que não me vê há quase dois anos.
Esse ano foi engraçado, está sendo. Não sei se estou começando a perceber as coisas pelo fato de, de certa forma, acreditar que o Fim está próximo, mas sei que coisas estranhas, de fato, acontecem. Estou procurando me preocupar menos, sem nunca perder aquela minha velha mania da responsabilidade. A velha pontualidade mais-que-britânica ainda me persegue. Meu humor até que varia, mas acho que não perdi sua essência. Continuo apaixonada por bem-casado, mesmo estando comendo mais brigadeiro. Permaneço amando a Literatura, a Língua Espanhola. Clarice Lispector ainda é minha musa inspiradora. Pablo Neruda ainda me faz chorar. Pitomba ainda é minha fruta preferida. Meus amigos são os mesmos, meu amor por eles também, com exceção da intensidade que sempre aumenta. Todo mês ainda compro a Revista Astral para ver o que Bidu tem a me dizer. Continuo preocupada com os problemas do mundo, mesmo tendo desistido de boa parte dele. Continuo odiando ter que acordar cedo e pegar ônibus lotado. Detestando a injustiça, a falta de respeito e fígado e galinha guisada. Sempre cansando de alguma pessoa, embora no outro dia já não esteja tão cansada dela assim. Sempre mudando, sempre permanecendo. Mas nunca esquecendo que é tempo. Tempo de ser.

sábado, 3 de outubro de 2009

Greve

Sim, estou em greve. Volto quando der, obrigada.