quarta-feira, 21 de julho de 2010

Otário

Ele deveria entender que eu não estava interessada. Eu não estava nem aí pra ele. Aos poucos, os homens foram se tornando meu maior aprendizado. Minha escola, sabe? Antigamente, pra mim, viver bem era sair toda noite com um cara diferente e beber dois litros de vodka em menos de duas horas. Nunca soube o que me fazia gostar tanto dessa destilada. Passados alguns meses, nessa onda de sair pra beber e beber pra sair, fui percebendo que, nesses encontros noturnos, sempre na rua A., havia um homem que todos os dias sentava na mesma mesa de bar, fumando seu cigarro, empurrando seus óculos pra melhor enxergar quem por ali passasse. E ele me olhava. Olhava como se seu olhar estivesse protegido por óculos-escuros. Um dia, não aguentei e dispensei o cafajeste com quem eu estava naquela noite, atravessei a rua e, embora não fumasse, perguntei se ele tinha um isqueiro. Ele, com um ar de desprezo, disse que não tinha isqueiro algum, mas que me pagaria uma dose de uísque se eu sentasse pra conversar durante 15 minutos. Não hesitei um segundo sequer. Estava curiosa pra saber nome, endereço e, quiçá, telefone. Passamos os 15 minutos calados. Um olhando para a cara do outro. Até que eu me levantei e disse que os 15 minutos já tinham passado. Ele segurou meu braço, me puxou pra perto dele, dizendo "Não vá agora, Sara! Não agora". Insistiu me oferecendo mais algumas doses, perguntando quem seria o otário da noite seguinte. Nem respondi. Já bêbado, pediu que o acompanhasse até a sua casa. Caminhamos durante 20 minutos, e, chegando lá, pediu que eu subisse. Ele deveria entender que eu não estava interessada. Eu não estava nem aí pra ele. E se estivesse, eu já teria ido pra cama no primeiro minuto em que ele me olhou. Otário.

2 comentários:

Alisson da Hora disse...

Instigante...

Diogenes disse...

Ei, me apresenta essa Sara depois!!! ashiuashiasihiiu