quinta-feira, 24 de julho de 2008

impotência

Quarta-feira, 23 de julho de 2008.
Horário: 9h13min
Local: Avenida Governador Agamenom Magalhães.
Ponto de Referência: Próximo ao estabelecimento da Mc Donalds.

Estávamos eu, minha mãe e minha avó dentro do carro seguindo caminho para uma parada próxima à praça do Derby, ou coisa do gênero, para que eu seguisse o meu destino e elas o delas! Nós, enquanto o semáforo estava fechado, estávamos conversando sobre alguma notícia que se passava na rádio. Juro que eu estava desatenta, olhando para outro plano espiritual quando minha mãe diz:
- Olha, mamãe, que mala!
Automaticamente me viro para a outra janela para ver tal garoto e começar uma discussão com minha mãe, porque isso sempre acontece quando ela define um garoto mal vestido e sujo de "mala" (Eu não gosto disso. Não sei o motivo, mas eu não gosto.). Quando eu invento de abrir a boca pra dizer "eita, mãinha, lá vem a senhora com esses paradigmas banais!", é quando o MALA se levanta da calçada donde ele estava sentado e se dirige à um carro muito próximo do nosso. Eu, na minha santa inocência, apenas penso que ele vai pedir algum dinheiro e, assim, seguir para os outros carros; já que isso, aqui em Recife, é vício comum, né?! Mas não, o indivíduo não queria a esmola do bom cidadão, ele queria mais. A sede dele era de alguma outra coisa, era amargo, era pior.
É quando esse garoto, de mais ou menos 13 anos, vendo que a pessoa não iria dar dinheiro por boa vontade, resolve mostrar a arma que estava camuflada em seu short. Minha mãe, em um ato automático, começa a gritar no carro, rogando por todos os santos desse mundo, entrando num desespero que começou a me assustar. Enquanto que eu permanecia calada, imóvel, estática; só um órgão parecia existir dentro de mim: meu coração. Esse, sim, não parava de me mostrar que estava vivo, veemente. Nossa, eu realmente não sabia o que aquele garoto estava pensando, quais os valores que ele julgava necessário nessa sociedade de ... merda, ou até mesmo qual o valor de um trauma, o que um trauma causaria numa pessoa. É, ele não estava nem aí. Provavelmente ele não tinha o que perder nesse jogo, não tinha.
Minha avó, querendo "ajudar" aquele ser que se encontrava no carro da frente, resolve pegar a carteira dela e retirar algum dinheiro. Eu, sem entender, pergunto o que ela estava fazendo. Ela diz que vai abrir a janela pra dar o dinheiro ao menino. Louca, ela?! A princípio pensei que sim, mas não era isso um ato de loucura. Era um ato de coração bom, generoso e amedrontado. É aí que não só uma pessoa no nosso carro começa a gritar, mas, sim, duas! Eu, gritando:
- Vovó, NÃO! A senhora endoidou, foi?! Pelo amor de Deus, nãããão!
Essa cena que, para você que está lendo, parece ter demorado uns dez minutos, não passou mais do que os segundos daqueles semáforos que marcam o tempo com alguns pontinhos, sabe?! Pra mim, aquilo pareceu durar a eternidade que cada segundo podia oferecer naquele momento. Eu, obviamente, não me sentia confortável naquela situação. Foi aí que o sinal abriu e minha mãe, sem nem pensar em nada, meteu o pé no acelerador como forma de se libertar (ou salvar-se) dali, daquela prisão que nos tornava impotentes, incapazes, infelizes ...

3 comentários:

Raissa. disse...

:O

esse mundo ta perdido mesmo. ¬¬

Pessoas como sua vó, apesar da loucura, deveriam receber um prêmio. ^^



:*** gabi

Unknown disse...

e nessas horas que a gente constroi o nosso mundo, porque viver eternamente nessa tá insuportavel.
gabi, adorei o teu blog, leitora diaria! :)

Unknown disse...

Essa cidade tá virando um inferno Gabi. Temos que sair todos os dias de casa rezando para não acontecer nada!
e pelo visto você rezou muito quarta-feira! :)
bjão