quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quando Foi Outra (4)

Não. Não poderia chover. Não naquela noite. Algum motivo especial? Mau augúrio. Mas acontecera o pior: não choveu; apenas trovejava e relampejava sem parar. Era o pior pelo simples fato de não haver significado algum, embora para Enzo, com certeza, houvesse, sim. Seria os relâmpagos e os trovões algum sinal dos céus?, pensou Helena. Sandra, àquela noite, de fato inesquecível, não conseguia pensar em mais nada. Fechar os olhos já lhe custava muito, um martírio pequeno, mas martírio. Sim. Ela era mártir de si.

Eis que o médico que cuidava de Enzo, chama, em particular, a esposa dele. Um tímido medo tomava conta de Sandra naquele instante. Silêncio: era o único som que se ouvia até o momento em que Helena se agarra aos 1,90m que estava na sua direita e começa a gritar aquelas frases soltas, sem sentido, num corredor que não parecia ter fim. Por quê?, gritava Helena, Por que, meu Deus?

Sandra, com seus passos firmes, se aproximava daquela cena como se jamais fosse poder fazer com que seu pai a escutasse. Era tudo vibração. Abriu a porta do quarto e encontrou apenas a matéria: o que quer que fizesse seu pai falar e sentir já não estava naquela cama; a alma, o espírito... sequer ficou para um último adeus. Mas que coração débil tinha o meu pai, murmurava Sandra. "Somos demasiado covardes, demasiado débeis; a atração à análise, à auto-análise torturadora e profunda é simplesmente mais uma forma da artificialidade dos humanos", mas ela lembrava das palavras de Neruda.

3 comentários:

Alisson da Hora disse...

A gente sempre pergunta por que... e a gente sempre corre o risco de nos acharmos tremendamente covardes...se bem que os raios assustam, se é que você me entente...

=*

Anônimo disse...

Mas nem sempre chuva é sinal de mau augúrio...
PS:Devo aqui comentar que eu gostei muito desse post?

Unknown disse...

se eu te disser que não entendi o texto direito tu acreditas? heaiuheahe desculpa, xará! :$
beijo