quarta-feira, 8 de julho de 2009

Imagine

Não sei com que propósito esta lembrança assaltou meu pensamento. Mas posso afirmar, com convicção, o ano em que aconteceu: 2005. Aniversário da minha mãe. 19.

- Tu é rica, né?
- Rica? Eu? Não...
- É, sim! Tu tem uma casa, tem câmera digital, tem celular, tem cabelo liso...
- (...)
- Ah! E ainda usa aparelho! Minha mãe disse que quem usa aparelho é rico.
- (...)
- Agora diga se num é!
- Não, sou não. Rapidinho, vovó tá me chamando...

Qual o pensamento que perpetua na cabeça dessas crianças carentes, em todos os sentidos da palavra? Foi nesse instante que pude, de fato, reconhecer o quão arbitrária uma imagem pode ser. Não a imagem estática, captada por uma máquina fotográfica. Mas a imagem, nua e crua, criada, transformada e adaptada por aqueles que querem ver, sentir, imag(em)inar.

2 comentários:

Alisson da Hora disse...

É engraçado mesmo isso...Num abrigo que eu ia com certa frequência (ah, tenho de voltar) as crianças de lá falavam a mesma coisa pra mim. E ainda perguntaram, uma vez, se eu era adotado (já achavam que eu era rico...)... Eu perguntei por que achavam que eu era rico e adotado...Simples, se você é negro e é rico, lógico que você é adotado, negro nasce pobre... Depois soube pela assistente social que muitas crianças de lá eram adotadas, principalmente por estrangeiros... A imagem é tão poderosa, ainda...

Bruna disse...

é, Gabriela, você é, sim, rica. teu cabelo, ah teu cabelo...