Esperto é quem fica em silêncio. Esperto é você, esperta sou eu. E
fomos buscando as entrelinhas, os entremeios e os entreatos. No silêncio
que sempre te despia, e ainda te despe, eu fui encaixando as peças como
quando faço num quebra-cabeça: testando. Isso encaixa, isso não
encaixa. E você foi abrindo as janelas, depois os cadeados, depois as
fechaduras, e deixou a porta entreaberta, como quem quer, sim, alguma
coisa mas espera o passo do outro. Você tem medo dos (meus) pass
os
que se aproximam. Fica parado, atrás da porta, acreditando que eu vou
empurrá-la devagar e entrar. Mas eu também paro. E bato três vezes na
porta entreaberta. Já posso ver sua sala, sua varanda e seu corredor. E
você não abre a porta. Agora eu toco a campainha. Você não se move. Eu,
já cansada dos três andares subidos de escada, dou meia volta e desço um
degrau. Dois degraus. Três, quatro, cinco.
O celular vibra na bolsa enquanto faço o caminho inverso - só quando chego em casa é que penso em olhá-lo.
E lá está você, mais uma vez, me dizendo: Desculpa, é que ainda não tive coragem de arrumar meu quarto.
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