Era Dezembro.
Chovia,
chovia e chovia.
Há muito
tempo Recife não suava desse jeito.
Os
ambulantes vendendo botes na Praça do Derby. Seu Jerônimo nadando contra a corrente
em plena Caxangá e gritando para os 6 cantos do Recife aquilo que o poeta já
previa: o sertão, finalmente, vai virar mar. Recife era, mesmo, a capital do
Mundo.
O título de
Veneza Brasileira já não servia para encher de orgulho o peito do povo. Éramos,
agora, o leste que antes nos banhava: éramos o próprio mar de Atlas. Rios, açudes,
mangues e lagos se confundiam. Onde se banhavam, agora, as capivaras?
A enchente,
ou melhor dizendo, a cheia chegava mansa. E estava vindo. Nem o Alto Treze de
Maio se salvaria. Só aqui para acontecer uma coisa como essa – muitos diziam,
assustados, dentro de suas casas. Era a nossa mania de exclusividade falando
mais alto.
Dona
Nevinha, agarrada ao seu pé de romã, acreditava piamente que seu marido era o
Noé da Nova Era. Comia romãs e guardava as sementes porque queria que a fruta
sagrada fizesse parte do Novo Mundo. Queríamos a todo custo ser a -Gênese- do
mundo.
Até que a
cheia, vindo como chegava, chegou. Carregando escadas, palcos, batentes,
degraus. E nós? Nós – não se sabe. Viramos pombos. E fomos viver na Nova Roma.
Ou, quem sabe, na nova Nova Roma.
A Mauricéia Desvairada.
Um comentário:
Mas aí os flangos foram para onde? onde fica a nova Nova Roma? me diz, ó celeste Gabriela
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