sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Do meio-dia

Não sei por que eu me sinto assim. Aquele sonho me deu medo. Continua dando. Acho que ele representa uma fase da minha vida que morreu e outra que está nascendo. Sim, é por partes. Às vezes eu sinto saudade de coisas que nunca vivi. Acho que é falta, mesmo. Mas sentir falta ou saudade não é a mesma coisa?

Eu olho ao redor. Tanta gente, tanta vida. Tanto amor... Ando meio assustada com a Vida, ela gosta de pregar peças; e depois vem dizer que o Tempo cura tudo. Não ponha personagens na sua história nem na minha, sim, Vida? Eu não quero. Eu quero mesmo é a singeleza de respirar. Quero olhar para aquele que está ao meu lado e dizer que... Mas não há aquele. Há a falta.

Sonhos não fazem a realidade, alimentam-na. Não posso mais viver sonhando, tenho que agir. É verdade que ambiciono muitas coisas, embora seja também verdade o fato de sempre esperar. "Um dia há de acontecer". Esse meu mau-humor enrustido é reflexo de uma espera infinita, de uma insaciável busca. De quê, meu Deus? De quê?!

Não quero e não posso ser assim, desse jeito. Entende? Cadê a mudança? Aquela luz, quase solar, do meu sonho, seria a mudança? O universo em que vivo é paralelo, instantâneo. Submeto-me à esperança que é substantivo valencial. No entanto, quero a morte de uma específica esperança: justo aquela que me faz acreditar que uma intensa felicidade está por vir. Não vi ninguém. Não vem ninguém. Ninguém. E mesmo que viesse, seria tão irreal que até a própria irrealidade o transferiria para a surrealidade. A gente se impede de crer em milagres. Mas te revelo um segredo: eles existem.

No que me diz respeito à vida, posso afirmar que seu verbo é intransitivo (depende do sentido, eu sei). Viver basta. No entanto, é preciso aprender tal intransitividade. Não vive-se só por viver. Viver exige muito. Talvez exija todos os verbos para completar-se. É dizer: vivi porque amei, sofri, chorei, calei, fui feliz, me arrependi... Talvez viver não seja tão intransitivo assim. Talvez morrer seja mais fácil, mais volátil.

Encontro-me com meu destino. E ele diz: segue!. Para onde, amigo, para qual direção? Só tenho medo de voltar. Começar do início é sempre perder o já-foi, o já-aconteceu. Dúvidas permeiam uma mente. Uma sexta-feira precisa de um sábado para saber que existe e ter o seu valor. É o peso de vir antes, anteceder aquilo que já é.

Um comentário:

Bruna disse...

'vivi porque amei, sofri, chorei, calei, fui feliz, me arrependi'...
parodiando a minha mais nova heroína, Olívia, mesmo antes de nós existirmos, mesmo agora e mesmo bem depois, as estrelas estarão lá.
(e enquanto elas estiverem lá, valerá a pena viver)